quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Análise do poema D. Dinis

 D. DINIS
Na noite escreve um seu Cantar de Amigo
O plantador de naus a haver,
E ouve um silêncio múrmuro consigo:
É o rumor dos pinhais que, como um trigo
De Império, ondulam sem se poder ver.
Arroio, esse cantar, jovem e puro,
Busca o oceano por achar;
E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar.
Fonte
...
Página 113
Leitura | Compreensão
1. Vv. 1 e 2. Os versos destacam as duas facetas mais singulares do rei: a produção
literária e, através da metáfora do segundo verso, o carácter previdente, precursor e
visionário de D. Dinis, que terá preparado a expansão portuguesa com a lendária
plantação do pinhal de Leiria. Deste modo, o rei é apresentado como previdente e
visionário, sendo capaz de antecipar o futuro.

2. Para o retrato de D. Dinis contribuem significativamente as sensações auditivas. O rei-poeta é, para Fernando Pessoa, um ser de excelência, capaz de ouvir “um silêncio múrmuro”. Como figura de contornos prodigiosos, D. Dinis acede ao chamamento para
cumprir uma missão superior, respondendo, enquanto interlocutor privilegiado, à “fala” (v.8) dos pinhais, também designada por “rumor” (v. 4), “som” (v. 9) e “voz” (v. 10). D. Dinissente interiormente o apelo de uma atuação preparatória do futuro grandioso, ganhando o
estatuto de herói mítico em Mensagem.

3. a. Os pinhais são comparados a um alimento essencial (o trigo, ingrediente-base do pão). Assim, destaca-se o facto de a madeira por eles fornecida constituir a matéria- prima que permitiu saciar a “fome” de Império que norteou a expansão portuguesa. b. O som dos pinhais é referido como “marulho obscuro” (v. 8), intensificando a relação das
árvores com o elemento (mar) em que cumprirão a sua função especial. c. As antíteses ligadas ao som dos pinhais presentes nos versos 9 e 10 contribuem para intensificar a diferença entre o “presente”, ligado à “terra”, e a possibilidade de um “futuro” vivido no “mar”, graças à ação profética de D. Dinis.

Gramática
1.1. Sujeito.
1.2. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva.
2. a. “obscuro” (v. 8), “presente” (v. 9), “futuro” (v. 9).
b. “Arroio” (v. 6), “jovem e puro” (v. 6), “marulho obscuro” (v. 8).
c. “o som presente desse mar futuro” (v. 9), “a voz da terra ansiando pelo mar” (v. 10).

(Manual Português EP, Porto Editora)

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