Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.
E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.
São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.
26-3-1934
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972).- 85.
Página 124
1. A – 3; B – 1; C – 4; D – 2.
2. O adjetivo caracteriza as ilhas onde, de acordo com poema, “o Rei mora esperando”
(v. 13), ou seja, elas são “afortunadas”, lugares de sorte e esperança, por constituírem o
espaço onde D. Sebastião se prepara para regressar e resgatar a glória de Portugal.
Leitura | Compreensão
As Ilhas Afortunadas fazem parte da tradição clássica. Já em autores gregos aparecem referidas como paraísos, local do repouso dos deuses e dos heróis míticos. Ptolomeu, soberano do antigo Egito, fala destas ilhas, tal como Homero que refere as "ilhas que ficavam além dos Pilares de Hércules". O historiador romano Plínio-o-Velho e Plutarco, no século I, identificaram as Ilhas Afortunadas com as Canárias, tal como faz Camões no canto V, estância 8.
Em Mensagem, Fernando Pessoa fala das Ilhas Afortunadas como mito e símbolo, surgindo como local fora do tempo e do espaço onde os mitos do Quinto Império, do Encoberto, do Sebastianismo esperam para se concretizar. As Ilhas, cuja presença só se capta no sono através de sinais auditivos e pelo som das ondas, surgem como lugar do não-tempo e do não-espaço, são "terras sem ter lugar", onde se encontra o Desejado que virá fundar o Quinto Império, "onde o Rei mora esperando".
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