O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
21-2-1933
Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972). -82
Página 122
Pré-leitura
1.1. Na primeira tira, o recurso a linguagem náutica remete para a ideia de fazer depender
uma ação do surgimento da oportunidade certa (fala de Dustin) e sugere a falta de
proatividade (fala do pai).
1.2. As situações destacam a falta de iniciativa, de persistência e de comprometimento.
Página 123
Leitura | Compreensão do poema Quinto Império (ver aqui uma explicação sobre Padre António Vieira e a utopia do Quinto Império do Mundo)
1. O verso remete para a infelicidade que, segundo o sujeito poético, caracteriza quem vive acomodado, sem qualquer “sonho” (v. 3), de acordo com a vivência humana descrita nas duas primeiras estrofes.
2. Os vv. 11-12 introduzem a referência à passagem do tempo e as três últimas quintilhas anunciam o advento de uma nova época, de um novo império – o Quinto Império (vv. 21- 23) ligado à “verdade” da morte de D. Sebastião (vv. 24-25).
3. Nas duas últimas estrofes, confrontam-se os tempos passado/presente e futuro. A antítese dos versos 19-20 insinua o surgimento do “dia claro” – o tempo futuro –, que se anuncia sob a égide espiritual dos portugueses, a partir da “noite”, metáfora do passado.
Sucedendo aos quatro anteriores, o Quinto Império deles diferirá pela sua natureza; será
o império da “verdade”, nascida com a morte de D. Sebastião.
Escrita
1. Ao “sonho” referido no poema “O Quinto Império” corresponde a “loucura” do sujeito
poético, em “D. Sebastião, Rei de Portugal”. Ambos remetem para a dimensão espiritual
promotora de ações significativas, que possam distinguir o Homem da mera “besta sadia, /
Cadáver adiado que procria” ou levá-lo a não viver apenas tendo “por vida a sepultura”.
Pós-leitura
1. Resposta pessoal. O poema aponta para a necessidade de ação, para a assunção do
descontentamento como fator fundamental para o avanço, por oposição à quietude feliz e
previsível; o poder terreno esvai-se com o tempo, pelo que o novo “império” espiritual será
construído pelo poder da alma humana e pela força divina, um império “que não existe no
espaço” e que se constitui como o “verdadeiro e supremo destino” de Portugal.
(Manual Português EP, Porto Editora)
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